As Provas e Expiações como mecanismos evolutivos
Um dos
princípios da Doutrina Espírita é a reencarnação, entendida pelos orientadores
espirituais como necessária à evolução humana, pois “uma só existência
corpórea é claramente insuficiente para que o Espírito possa adquirir todo o bem
que lhe falta e de desfazer de todo o mal que traz em
si.”[1]
Para nos
auxiliar no processo ascensional, Deus nos concede o livre arbítrio, uma vez
que, se o homem “(…) tem liberdade de pensar, tem também a de agir. (…).”[2]
Podemos, então, afirmar que o ser humano é o árbitro do seu destino e que cada
escolha, independentemente das suas motivações ou justificativas, acionam a lei
de causa e efeito em qualquer plano de vida que se situe: o físico ou o
espiritual.
O uso do
livre arbítrio são ações que provocam reações, no tempo e no espaço. As boas
escolhas produzem progresso evolutivo, enquanto as escolhas infelizes geram
provações ou expiações que se configuram como mecanismos evolutivos,
moduladores da lei de causa e efeito, claramente consubstanciada no
planejamento reencarnatório de cada indivíduo. Daí Emmanuel afirmar: “A lei das
provas é uma das maiores instituições universais para a distribuição dos
benefícios divinos.”[3]
Para melhor
compreensão do assunto, Emmanuel especifica também a diferença que há entre
prova (ou provação) e expiação: “A provação é a luta que ensina ao discípulo
rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A
expiação é pena imposta ao malfeitor que comete um
crime.”[4]
Percebe-se,
portanto, que a prova assemelha-se a uma corrida de obstáculos que tem o poder
de impulsionar o progresso humano. As provas sempre existirão, mesmo para
Espíritos superiores, por se tratarem de desafios evolutivos. A expiação,
contudo, representa uma contenção temporária da liberdade individual,
necessária à reeducação do Espírito que, melhor utilizando o livre arbítrio,
reajusta-se às determinações das leis divinas.
As provações
podem ser difíceis, não resta dúvida, mas, por seu intermédio, o Espírito é
colocado em situações que o afasta do estado de inércia em que ora permanece ou
se compraz, proporcionando-lhe, ao mesmo tempo, oportunidades para que ele
possa trabalhar a melhoria das suas atuais condições de
vida.
Nas
expiações, o Espírito vê-se colocado prisioneiro das más ações cometidas, pelo
uso indevido do livre arbítrio. Para que não se prejudique mais, renasce sob
processos de contenção que, obviamente, produzem sofrimentos, sobretudo se o ser
espiritual ainda não consegue apreender o valor da dor como instrumento de
educação e cura espirituais.
Em O Céu e o Inferno, Allan Kardec lança
outras luzes a respeito do tema, quando explica que o arrependimento das faltas
cometidas é o elemento chave para liberar o Espírito das provações dolorosas e
das expiações. O Codificador, assim se expressa:
Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para
apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza as
dores da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a
reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa.(Grifos no
original)[1]
Nesses termos, a libertação do Espírito, ou reparação, indica ser a etapa final
da expiação porque, perante os códigos divinos, não nos é suficiente expiar uma
falta, é preciso anulá-la, definitivamente, da vida do Espírito imortal, pela
prática do bem:
A reparação
consiste em fazer o bem a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus
erros nesta vida por fraqueza ou má vontade, achar-se-á numa existência
posterior em contato com as mesmas pessoas a quem prejudicou, e em condições
voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes o seu devotamento, e
fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito.[2]
Referências
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2009.
- __________. O Livro dos Espíritos. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora,
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