Porque creio que Chico foi Kardec
Carlos A. Baccelli
Os motivos que me levam a uma
convicção pessoal de que Chico Xavier tenha sido a reencarnação de Allan Kardec
tão numerosos e distintos são que passarei a expor alguns deles, sem o menor
propósito de polemizar em torno do assunto.
-
-
Tendo convivido com o
médium por mais de 25 anos, não observei diferença significativa entre a sua
personalidade e a do Codificador. Consideremos, segundo nos é dado depreender
das informações prestadas pelos principais biógrafos de Kardec e dos escritos de
sua própria lavra, que ambos eram, quando necessário, austeros e amáveis,
determinados e bons.
-
-
Chico Xavier - creio que
todos concordam a respeito - foi o legítimo continuador de Kardec, no que tange
ao desdobramento da codificação e à tarefa de difundi-la, através da palavra e
do exemplo.
-
Após o 2 de Abril de 1910,
data do nascimento de Chico, o espírito de Allan Kardec não mais estabeleceu,
ele mesmo, qualquer contato mediúnico confiável com os
encarnados.
-
-
O Espírito Verdade,
coordenador espiritual de imensa equipe que o assessorava e um dos seus
Protetores, havia lhe informado, em mais de uma ocasião, que, dentro de pouco
tempo, ele tornaria a reencarnar para Dar seqüência à obra
encetada.
-
-
O próprio Kardec,
elaborando os cálculos, deduziu que a sua Volta à Terra se daria no final
daquele século ou no começo do outro.
-
Chico Abraçou a mediunidade
aos 17 anos de idade; os Espíritos haviam dito a Allan Kardec que, quando ele
voltasse à Terra seria em condições que lhe permitissem trabalhar desde
cedo.
-
-
Emmanuel, um dos Espíritos
Codificadores, foi, ao lado do Dr. Bezerra de Menezes e tantos outros, o
coordenador da tarefa mediúnica de Chico Xavier.
-
-
O Mentor da "Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas" fundada por Kardec, era São Luis; o do Centro
Espírita de Pedro Leopoldo, fundado por Chico Xavier, é São Luis
Gonzaga.
-
-
Se Chico não foi a
reencarnação do Codificador, conclui-se naturalmente que ele não reencarnou e
que, portanto, o Espírito Verdade se enganou no que lhe disse, o que -
convenhamos - colocaria em questão a sua condição
espiritual.
-
-
Se a espiritualidade
superior tivesse mudado de planos - o que é inconcebível, depois de anunciá-los
-, porque o Grande silêncio de Allan Kardec, através da maior antena psíquica do
século: Chico Xavier?
-
Chico , com freqüência, se
referia a Jesus e aos Espíritos amigos, mas pouco mencionava o Nome de Allan
Kardec.
-
-
Para os íntimos, Chico
revelava um conhecimento da vida do Codificador que não encontramos em nenhuma
de suas biografias. Contou a mim e a outros , por exemplo, que um de seus
sobrinhos, após o seu desenlace, entrou na justiça reivindicando parte dos
direitos autorais das obras da Codificação, o que, segundo o médium, atrasou a
divulgação da Doutrina em 50 anos: Coincidência ou não, Chico teve um sobrinho
que lhe criou sérios problemas, em caluniosa difamação plenamente
infundada.
-
-
Chico não se casou e,
embora Kardec tenha se consorciado, segundo o médium, ele e D. Amélie Gabrielle
Lacomb Bouded, que era 9 anos mais idosa do que ele, cultivavam um amor puro:
ela nutria por ele verdadeiro zelo maternal. Isto me foi dito pelo próprio
Chico, conforme a Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, que também estava presente
na ocasião, escreveu em um artigo da "Folha Espírita".
-
-
Outras "coincidências" nos
fazem pensar: Kardec desencarnou em 31 de março e foi sepultado no dia 2 de
abril, data do nascimento de Chico Xavier, tendo o seu corpo ficado exposto à
visitação pública durante 48 horas; o mesmo pedido foi feito por Chico Xavier
aos seus amigos.
-
-
Era hábito de Kardec
efetuar doações financeiras a amigos em dificuldades, encaminhando-as em Nome
dos Bons Espíritos; o mesmo fazia Chico Xavier, inclusive empregando a mesma
terminologia do Codificador. Diga-o quem, neste sentido, tenha sido beneficiado
peloda médium.
-
-
Existem fotos de Kardec e
Chico que poderiam ser sobrepostas, tal a semelhança de postura entre os dois; é
espantosa a semelhança revelada entre as mãos de um e de outro, além do costume
de Chico sempre usar paletó, mesmo sendo o Brasil um país de clima
tropical.
-
-
Em Uberaba, e acreditamos
em outras cidades, vários médiuns confirmavam que Chico era a reencarnação de
Allan Kardec, inclusive notável medianeira Antusa Ferreira Martins, que era
surda-muda e analfabeta, portanto incapaz de ser influenciada por especulações
neste sentido.
-
Entre os que contestam ser
Chico a reencarnação de Kardec, há os que afirmam que o Codificador não teria
sido tão tolerante quanto Chico o foi com o que lhe sucedia ao redor, envolvendo
irmãos de ideal e outros, esquecendo-se de que, em "Obras Póstumas", o
Codificador não hesita ao confessar que a "Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas" havia se transformado em um foco de intrigas contra ele e que
enfrentara inúmeros dissabores inclusive traição.
-
-
Chico jamais confirmou ser
a reencarnação de Allan Kardec; ao contrário quando não fazia questão de
negá-lo, inclusive em entrevistas, respondia reticentemente em torno do
assunto.
-
Poderiam, perfeitamente,
ser de Chico Xavier as seguintes palavras de Allan Kardec: "Sentia que não tinha
tempo a perder e não perdi; nem em visitas inúteis, nem em cerimônias estéreis.
Foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo, sacrifiquei-lhe o meu
repouso, a minha saúde, porque diante de mim o futuro estava escrito em letras
irrecusáveis.
-
-
Chico e Kardec eram assim:
"Aos domingos - escrevia ainda Leymarie -, sobretudo nos últimos dias de sua
vida, convidava amigos para jantar em sua Vila Ségur (Chico os convidava aos
sábados, para almoçar). Então, o grave filósofo, depois de haver batido os
pontos mais difíceis e mais controvertidos da Doutrina, esforçava-se para
entreter os convidados. Mostrava-se expansivo, espalhando bom-humor em todas as
oportunidades".
-
-
Kardec e Chico, acima de
tudo, tinham e têm um acendrado compromisso com o Evangelho de Jesus, em sua
obra e em sua vida.
Ao terminar, esclareço que,
sendo adepto de uma doutrina de livre expressão, qual é o Espiritismo,
reivindico para mim o direito de pensar como penso e deixo exarado neste
testemunho, sem, evidentemente, negar a qualquer outro o direito de discordar de
minhas convicções, sem que me sinta, necessariamente constrangido a transformar
o assunto em polêmica sem proveito, com responder a objeções que o tempo, e
somente o tempo, haverá de fazer.
Matéria contida na revista
"Goiás Espírita" Ano7 - nº 23 - 2003.
|