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Os Três Aspectos do Espiritismo
Eu costumo dividir o Espiritismo em três
aspectos básicos: a parte moral , contida no O Evangelho Segundo o Espiritismo
(a mais essencial de todas, alicerçada nos ensinamentos morais de Jesus contidos
nos 4 evangelhos bíblicos e comentada nessa obra pelos espíritos), a parte onde
se ensina como exercer de forma segura a mediunidade embasada no O Livro dos
Médiuns. Essas duas partes, embasadas nesses dois livros, são a base imutável do
Espiritismo, da Doutrina dos Espíritos, pois sem a busca da reforma moral de
atitudes e sem a busca do desenvolvimento mediúnico com segurança,
responsabilidade e nobres objetivos certamente não se formarão bons médiuns. A
terceira parte constitui o estudo das comunicações espirituais em si, na busca
do progresso moral e intelectual, para que assim se atinja o progresso
espiritual e o melhor aproveitamento do espírito encarnado da oportunidade
evolutiva que tem na presente encarnação terrestre. Nas cinco obras da
codificação, o estudo dessas comunicações constitui o tema principal do O Livro
dos Espíritos (base filosófica da Doutrina dos Espíritos), O Céu e o Inferno e A
Gênese, sendo que na verdade essas três obras são a introdução ao estudo
embasado nas comunicações mediúnicas, são, portanto, os tijolos que vão sendo
acrescentados ao edifício espírita. Podemos observar claramente que dentre esses
tijolos estão às obras de Chico Xavier e de vários outros médiuns.
Temos, portanto nas três
partes: a busca pela reforma moral, o estudo da mediunidade e o estudo das
comunicações mediúnicas.
Podemos observar isso em
algumas passagens dos 5 livros da codificação e algumas do próprio Kardec:
"O Espiritismo é, pois, a doutrina fundada na
existência, nas manifestações e no ensinamento dos Espíritos. Esta doutrina
acha-se exposta de maneira completa no Livro dos Espíritos, em seu
aspecto filosófico, no Livro dos Médiuns, em sua parte prática e
experimental, e no Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu aspecto moral”.
(O Espiritismo na sua mais simples expressão - Allan Kardec)
“O verdadeiro espírita não é o que crê nas comunicações, mas
o que procura aproveitar os ensinamentos dos Espíritos. De nada adianta
crer, se sua crença não o faz dar sequer um passo na senda do progresso, e não o
torna melhor para o próximo”. (O Espiritismo na sua mais simples expressão –
Allan Kardec)
"O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe uma
coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal. É uma ciência de
observação que, repito, tem consequências morais que são a confirmação e a prova
dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, ele as
abandona à consciência de cada um”. (O que é o Espiritismo - Allan
Kardec)
"O Espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível,
formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que não são mais que as
almas daqueles que viveram na Terra, ou em outros globos, nos quais deixaram
seus invólucros materiais. São os seres a que chamamos Espíritos, seres que nos
cercam e incessantemente exercem sobre os homens sem que estes o percebam, uma
grande influência" (O que é o Espiritismo - Allan Kardec)
"O Espiritismo tem por fim demonstrar e estudar a
manifestação dos Espíritos, suas faculdades, sua situação feliz ou infeliz, seu
futuro; em suma, o conhecimento do Mundo Espiritual." (O que é o
Espiritismo - Allan Kardec)
"Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente
da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método
experimental. Fatos de ordem nova se apresentam que não podem ser explicados
pelas leis, conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, partindo dos efeitos
às causas, chega à lei que os rege, depois deduz as conseqüências e busca as
aplicações úteis. O Espiritismo não estabeleceu nenhuma teoria
preconcebida; assim, não se apresentam como hipótese nem a existência e a
intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer
dos princípios da doutrina; conclui-se pela existência dos Espíritos
porque essa existência resultou como evidência da observação dos fatos; e assim
os demais princípios. Não foram dos fatos que vieram posteriormente
confirmar a teoria, mas foi a teoria que veio subsequentemente explicar e
resumir os fatos. Rigorosamente exato, portanto, dizer que o Espiritismo é uma
ciência da observação e não o produto da imaginação" ( A Gênese capitulo 1, item
14)
"O Espiritismo é, ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma
doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se
estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as
conseqüências morais que dimanam essas mesmas relações”. (O que é o
Espiritismo)
"Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem por base as
verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as
penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto
em particular. Seu objetivo é
provar àqueles que negam, ou que duvidam que a alma exista que ela sobrevive ao
corpo e que sofre, após a morte, as conseqüências do bem e do mal que praticar
durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões”. (O Espiritismo na
sua mais simples expressão - Allan Kardec)
"O Espiritismo, firmado no conhecimento de leis ainda não
compreendidas, não vem destruir os fatos religiosos, mas torná-los mais
aceitáveis, dando-lhes explicação racional. O que ele vem destruir são as falsas
deduções daquelas leis, por erro ou ignorância”. ( Obras Póstumas - Allan
Kardec)
"Assim, como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém
cumpri-la”, também o Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã,
mas dar-lhe execução”. Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo;
mas, desenvolve completa e explica em termos claros e para toda gente, o que foi
dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir e preparar a realização das
coisas futuras." (O Evangelho Segundo o Espiritismo capítulo 1, item
7)
Outra questão muito interessante é quanto ao entendimento de que
o Espiritismo é uma religião. No sentido atual que vemos ter se transformado a
religião , baseada em liturgias, cerimônias sacerdotais e vestes especificas,
certamente podemos dizer que o Espiritismo não é religião , mas caso apliquemos
o sentido original da palavra religião , o religare, a busca da conexão do
homem a sua essência interna ( espírito) para assim buscar sinceramente a
evolução espiritual e Deus, então sim, podemos entender que no seu sentido
original a palavra religião expressão o caráter da doutrina Espírita. Vejamos o
que Kardec disse no discurso realizado na sociedade espírita de Paris em
novembro de 1868 e publicado um mês depois na revista Espírita:
"Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas
deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer
dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa
os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças. O laço
estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço,
um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os
pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que
se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do
que ao espírito
Se assim é, perguntarão então o Espiritismo é uma religião? Ora,
sim, sem dúvida senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e
nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da
fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas
sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza. Porque, então, declaramos
que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir
idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da
de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem.
Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova
edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma
casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios;
não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas
vezes se levantou a opinião pública”.
Kardec exprime muito bem nesse discurso que o Espiritismo não
deve se ater a formulas que falem mais aos olhos ( exterior) do que ao espírito
(interior). O caráter essencial do Espiritismo está na busca do intercambio
mediúnico, para que assim novas informações dos espíritos amigos cheguem e
enriqueçam a Doutrina dos Espíritos, no seu aspecto intelectual e moral, pois
certamente há de se compreender que o conhecimento sobre o mundo invisível e dos
espíritos também evolui, dessa forma torna-se impossível querer restringir o
Espiritismo as obras do Pentateuco ou de alguns poucos médiuns. O próprio Chico
Xavier foi muito combatido por muito espíritas quando lançou o livro “Nosso Lar”
e até os dias de hoje muitos “espíritas” não aceitam as obras dele, considerando
Andre Luiz e Emmanuel obsessores do saudoso médium. Esses “espíritas” são
conhecidos na doutrina como os ortodoxos, por tentarem transformar o Pentateuco
Espírita numa Bíblia imutável e Kardec no supremo papa infalível e "sacerdote
mor" do Espiritismo.
Levando em conta o discurso de Kardec em 1868 e o sentido atual
que as pessoas têm da palavra religião, podemos compreender que o Espiritismo é
muito mais uma Doutrina nos dias de hoje, palavra que talvez se encaixe melhor,
pois a religião no sentido original da palavra acabou por ser deturpado pelas
práticas “religiosas” das Igrejas Cristãs, transformando o Cristianismo
Primitivo de encontros e reuniões simples, em humildes casas (eklesia) ou ao ar
livre, como os sermões de Jesus e dos apóstolos as mais diversas comunidades,
transformados em cultos e cerimônias litúrgicas em templos suntuosos, com vestes
especificas e uma preocupação muito maior com o culto material e cerimonial do
que a busca sincera pela espiritualidade interior.
O Espiritismo em seu caráter é progressista, o progresso
faz parte da sua essência filosófica, ou seja, as informações advindas
do mundo espiritual estão em constante processo de evolução, ate porque o
próprio mundo invisível e os espíritos que nele habitam também evoluem,
progridem. Se os espíritos superiores não desejassem que novos conhecimentos da
vida espiritual chegassem ao homem , não teriam dedicado um livro inteiro pra
ensinar como se deveria realizar essa comunicação, entre espíritos encarnados e
desencarnados. O Espiritismo deve, portanto, evoluir sempre,
mantendo sua base moral alicerçada no evangelho de amor de Jesus e mantendo sua
base de estudos mediúnicos alicerçados no O Livro dos Médiuns, mas jamais deve
engessar o conhecimento do mundo espiritual aos 5 livros do Pentateuco Espírita
ou de meia dúzia de médiuns considerados espíritas.
O Espiritismo, doutrina dos espíritos, é o conhecimento básico
da vida espiritual paraa todas as pessoas, pois todos são médiuns em menor ou
maior grau e assim como as pessoas devem evoluir, deve também evoluir na sua
estrutura de informações e conhecimentos a cerca da vida espiritual, dos
espíritos e das colônias espirituais. A codificação não detém toda a verdade a
cerca do mundo dos espíritos, mas tão somente a base, o pilar fundamental, que
deve ser cuidado e inclusive reparado, para que o edifício onde está alicerçada
a Doutrina Espírita permanece sempre firme, forte e, sobretudo, atualizado,
evoluindo constantemente.
Kardec acentua esse caráter progressista:
"O Espiritismo, caminhando com o progresso, não
será jamais ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrarem que
estava no erro sobre um ponto, modificar-se-á sobre esse ponto; se
uma nova verdade se revela, ele a aceita." (A Gênese, página 44 ou 45 dependendo
da edição)
"Os Espíritos, por força da diferença existente em suas
capacidades, estão longe de estar individualmente na posse de toda a verdade"
(Revista Espírita 1864)
"A doutrina não foi de forma alguma ditada
integralmente." (A Gênese capítulo 1, item 13)
"Não se contentem em dizer que isso não é assim, pois seria
muito fácil; provem, não pela negação, mas pelos fatos, que isso não existe que
nunca foi e não pode ser; se não existe, digam, sobretudo, o que haveria em seu
lugar" (O Livro dos Espíritos, conclusão, item 5)
"Qual é o homem que pode gabar-se de possuir tudo, quando
o círculo dos conhecimentos cresce sem cessar, e as idéias se retificam a
cada dia?" (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 15)
"O Espiritismo não coloca como princípio absoluto senão o que
está demonstrado como uma evidência, ou o que ressalta logicamente da
observação.” (A Gênese, capítulo 1, item 55)
"Quem creia que tudo em nós não é só matéria, é Espiritualista,
o que não implica, de nenhum modo na crença nas manifestações dos Espíritos. As
manifestações espíritas são produzidas pela ação dos Espíritos sobre a matéria.
– A moral espírita decorre do ensinamento dado pelos Espíritos. – Há
espiritualistas que ridicularizam as crenças espíritas." ( O Livro dos Médiuns,
capítulo 32, Vocabulário Espírita)
"Espiritualismo: Diz-se no sentido oposto ao do materialismo.
Crença na existência do espírito, que existe outra coisa em si além da matéria.
O espiritualismo é a base de todas as religiões." ( O Livro dos Médiuns,
capítulo 32, Vocabulário Espírita)
Kardec em Obras Póstumas diz o que é
Espírita:
"É Espírita, todo aquele que crê na;
- Pluralidade de existências;
- na pluralidade de mundos habitados;
- na transmigração das almas (espíritos);
- nas Leis de Causa e Efeito
- na reencarnação como justiça divina;
- e sob essa ótica pautar a sua reforma íntima.
- Pluralidade de existências;
- na pluralidade de mundos habitados;
- na transmigração das almas (espíritos);
- nas Leis de Causa e Efeito
- na reencarnação como justiça divina;
- e sob essa ótica pautar a sua reforma íntima.
Ou seja, todo aquele que crê
nos itens acima e crê também na manifestação dos Espíritos (comunicação com os
desencarnados através da mediunidade) é um Espírita.
De posse dessas informações, que todo o espírita busque estudar,
analisar, conhecer, comparar os diversos conhecimentos da espiritualidade que
chegam através de vários médiuns, não apenas os considerados espíritas e suas
obras, como o Pentateuco Espírita ou os livros de Chico Xavier, mas também as
informações que chegam através da Umbanda, da Apometria, de Ramatís, pois todo
médium que milita junto a espiritualidade buscando desenvolver com segurança sua
mediunidade nas bases do O Livro dos Médiuns e sobretudo busca esse intercambio
com nobres motivos, não pode ser considerado “não espírita”. Já está mais do que
na hora da Doutrina dos Espíritos quebrar as barreiras e separatismos criados
pelos homens, pois os espíritos superiores trabalham, ajudam, e utilizam os
médiuns independente se alguém os nomeia “espíritas”, “apômetras” ou
“umbandistas”. Já está mais na hora de cada pessoa assumir a busca pelo
conhecimento espiritual, não delegando isso a entidade ou federação, pois o
controle universal do ensino dos espíritos cabe única e exclusivamente a cada
pessoa, na própria busca interior pela evolução intelectual e moral desejando a
evolução espiritual:
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral, e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações" (O
Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 17, item 4 - Os Bons
Espíritas)
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