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4 de setembro de 2011

FERIDAS E CICATRIZES DA INFÂNCIA E A SABEDORIA DO BEM




Amor Imbatível Amor: Capítulo 17-



FERIDAS E CICATRIZES DA INFÂNCIA



Joana de Ângelis - Psicografado por Divaldo franco









Tem sido estabelecido através da cultura dos tempos, que a infância é o período mais feliz da existência humana, exatamente pela falta de discer­nimento da criança, e em razão das suas aspirações que não passam de desejos do desconhecido, de necessidades imediatas, de ignorância da realidade.

Os seus divertimentos são legítimos, porque a eles se entrega em totalidade, sem qualquer esforço, graças à imaginação criadora que a transporta para esse mundo subjacente do crer naquilo que lhe pa­rece. Não estando a personalidade ainda formada, não há dissociação entre o que tem existência real e aquilo que somente se fundamenta na experiência mental.

A criança atravessa esse período psicologicamente feliz, sem o saber, com as exceções compreensíveis de casos especiais, porque tampouco sabe o que é a felici­dade. Só mais tarde, na idade adulta é que, recordando os anos infantis, constata o seu valor e pode ter dimen­são dos acontecimentos e prazeres.

Como a criança não sabe o que é felicidade, facilmente identifica-a no divertimento, aquilo que a agrada e a distrai, os jogos que lhe povoam a ima­ginação.

É na infância que se fixam em profundidade os acontecimentos, aliás, desde antes, na vida intra-uteri­na, quando o ser faz-se participante do futuro grupo familiar no qual renascerá. As impressões de aceitação como de rejeição se lhe insculpirão em profundidade, abençoando-o com o amor e a segurança ou dilacerando-lhe o sistema emocional, que passará a sofrer os efei­tos inconscientes da animosidade de que foi objeto.

Da mesma forma, os acontecimentos à sua volta, direcionados ou não à sua pessoa, exercerão prepon­derante influência na formação da sua personalidade, tornando-a jovial, extrovertida ou conflitada, depressi­va, insegura, em razão do ambiente que lhe plasmou o comportamento.

Essas marcas acompanhá-la-ão até a idade adulta, definindo-lhe a maneira de viver. Tornam-se feridas, quando de natureza perturbadora, que mesmo ao se­rem cicatrizadas, deixam sinais que somente uma tera­pia muito cuidadosa consegue anular.

Por sua vez, o Espírito, em processo de reencarna­ção, acompanha mui facilmente os lances que prece­dem à futura experiência, e porque podendo movimen­tar-se com relativa liberdade antes do mergulho total no arquipélago celular, compreende as dificuldades que terá de enfrentar mais tarde, ao sentir-se desde então indesejado, maltratado, combatido.

Certamente, essa ocorrência tem lugar com aque­les que se vêm impelidos ao renascimento para repa­rar pesados compromissos infelizes, retornando ao seio das suas anteriores vítimas que agora os rechaçam, o que é injustificável.

A bênção de um filho constitui significativa con­quista do ser humano, que se deve utilizar do ensejo para crescer e desenvolver os sentimentos superiores da abnegação e do amor.

As reações vibratórias que podem produzir os Es­píritos antipáticos na fase perinatal, produzem, não raro, mal-estar. Não obstante, a ternura e a cordialida­de fraternal substituem as ondas perturbadoras por outras de natureza saudável, preparando os futuros pais para o processo de aprimoramento e de educação do descendente.

Na raiz de muitos conflitos e desequilíbrios juve­nis, adultos, e até mesmo ressumando na velhice, as distonias tiveram origem — efeito de causa transata —no período da gestação, posteriormente na infância, quando a figura da mãe dominadora e castradora, as­sim como do pai negligente, indiferente ou violento, frustrou os anseios de liberdade e de felicidade do ser.

Todos nascem para ser livres e felizes. No entanto, pessoas emocionalmente enfermas, ante o próprio fra­casso, transferem para os filhos aquilo que gostariam de conseguir, suas culpas e incapacidades, quando não descarregam todo o insucesso ou insegurança naque­les que vivem sob sua dependência.

Esse infeliz recurso fere o cerne da criança, que se faz pusilânime, a fim de sobreviver ou leva-a a refugi­ar-se no ensimesmamento, na melancolia, sentindo-se vazia de afeto e objetivo de vida. Com o tempo, essas feridas purulam, impelindo a atitudes exóticas, a com­portamentos instáveis, às fugas para o fumo, a droga, o álcool ou as diversões violentas, mediante as quais ex­travasam o ressentimento acumulado, ou mergulham no anestésico perigoso da depressão com altos reflexos na conduta sexual, incompleta, insatisfeita, alienado­ra...

A sociedade terá que atender à infância através de mecanismos próprios, preenchendo os espaços deixa­dos pela ausência do amor na família, na educação es­colar, na convivência do grupo, nas oportunidades de desenvolvimento e de auto-afirmação de cada qual. Para tal mister, torna-se necessário o equilíbrio do adulto, do educador formal, que pode funcionar como psi­coterapeuta, orientando melhor o aprendiz e reenca­minhando-o para a compreensão dos valores existen­ciais e das finalidades da vida.

Inveja, mágoa, ciúme, instabilidade, ódio, pusila­nimidade e outros hediondos sentimentos que afligem as crianças maltratadas, carentes, abandonadas mesmo nas casas onde moram, desde que não são lares verda­deiros, constituem os mecanismos de reação de todos quantos se sentem infelizes, mesmo que inconscientemente.

A compreensão dos direitos alheios e dos próprios deveres, o contributo da fraternidade, a segurança afe­tiva, a harmonia interior, a compaixão, a lealdade se instalarão no ser, cicatrizando as feridas, à medida que o meio ambiente se transforme para melhor e o afeto dos outros, sincero quão desinteressado, substitua a indiferença habitual.

Qualquer ferida emocional cicatrizada pode rea­brir-se de um para outro momento, porqüanto não er­radicada a causa desencadeadora, os tecidos psicoló­gicos estarão muito frágeis, rompendo-se com facilidade, pela falta de resistência aos impactos enfrenta­dos.

A questão da felicidade, por isso mesmo, é muito relativa. Se a felicidade são os divertimentos, ou é o prazer, ei-la de fácil aquisição. No entanto, se está radi­cada na plenitude, muito complexa é a engrenagem que a aciona.

De certo modo, ela somente se expressa em totali­dade, quando o artista conclui a obra a que se entrega, o santo ao ministério de amor a que se devota, o cientista realiza a pesquisa exitosa, o pensador atinge com a sua mensagem o mundo que o aguarda, o cidadão comum se sente em paz consigo mesmo... O dar-se, a que se refere o Evangelho, certamente é a melhor me­todologia para alcançar-se essa ventura que harmoni­za e plenifica.

Toda vez, portanto, que alguém sinta incompletu­de, insegurança, seja visitado pelos sentimentos inqui­etadores da insegurança, do medo, da raiva e da inveja injustificáveis, exceção feita aos estados patológicos profundos, as feridas da infância estão ainda abertas ou reabrindo-se, e necessitando com urgência de cica­trização.


 

A sabedoria do bem











Quando, na Antiguidade, alguém queria matar um urso, pendurava uma pesada tora de madeira em cima de uma vasilha com mel.






O urso empurrava a tora com força, a fim de afastá-la do mel. A tora voltava e o atingia.



O urso ficava irritado, feroz, e empurrava a tora com mais força ainda, e esta o atingia por sua vez com muito mais força.



Isso continuava até o urso ser morto.



* * *



Se nos fixarmos nesse fato, numa reflexão rápida e despretensiosa, poderíamos afirmar que as pessoas fazem o mesmo quando pagam o mal com o mal que recebem dos outros.



Pensamos então: Será que nós, seres humanos, não podemos ser mais sábios do que os ursos?



Empurramos a tora cada vez com mais força, mesmo sabendo que ela irá retornar e nos ferir!



As Leis de Deus - em especial a lei de causa e efeito º é muito precisa ao nos revelar esta sua característica.



Todas nossas ações são causas que irão sempre gerar uma conseqüência no Mundo.



Quando retribuímos com voz alterada e raivosa, uma palavra agressiva que nos fere o íntimo, estamos apenas empurrando a tora, e esquecendo o mel.



Nesta analogia, o mel seria o entendimento com o outro, a felicidade, a paz que tanto desejamos.



Só que, comumente, acabamos por nos entreter tanto com os empurrões da tora, que acabamos deixando o mel, a felicidade, esquecida num canto.



O objetivo do urso nunca será empurrar a tora. Sua meta é o mel, o alimento. A tora é um obstáculo a se contornar, um desafio apenas.



Se o animal pudesse raciocinar como o ser humano, nesta situação em particular, certamente pensaria numa forma de cortar a corda que sustenta a tora, ou num jeito de retirar o pote de mel debaixo dela.



Esta é a sabedoria do bem. Procurar outra alternativa que não a de retribuir o mal com o mal.



A sabedoria do bem proporciona, ao recebermos palavras amargas, uma pequena reflexão antes da reação eminente.



A sabedoria do bem busca compreender o momento do outro, a dor do outro, a angústia e infelicidades íntimas que o moveram a soltar pela boca o veneno que guarda na alma.



A sabedoria do bem nunca é conivente com o mal, e nem mesmo tolerante com ele. É, sim, compreensiva com o outro ser. Tolerante, indulgente com seu irmão.



A sabedoria do bem requisita criatividade, para que consigamos abrir a mente e pensar em outras soluções para resolver nossos problemas, que não a vingança.



A vingança será sempre a ação mais reativa, menos pensada, e que trará, sem dúvida alguma, a tora de volta para nos machucar tantas e tantas vezes.



A sabedoria do bem requisita amor. Amor pela vida, pelo Criador, sabendo que nenhum desastre, nenhum mal nos alcança sem razão.



Só quem ama o Criador confia em Seus desígnios, confia que tudo acontece para nosso bem, e desta forma não cultiva ódio por seus opositores na Terra, apenas compaixão.



Só a sabedoria do bem consegue eliminar os círculos viciosos nos quais nos aprisionamos ao longo dos milênios.



Só a sabedoria do bem em ação irá expulsar deste Mundo a guerra, o ódio e a violência.



* * *



O verdadeiro ensinamento do amor é forte: ele mata o mal antes que o mal possa crescer e tornar-se poderoso.





















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