O PENSAMENTO SOCIAL DE
CRISTO
POR PIETRO
UBALDI
Procurarei esta noite expor-vos o pensamento social de Cristo, observado
em vários aspectos seus. Primeiro, em face do problema DA distribuição DA
riqueza; segundo, em face do problema do instituto jurídico DA propriedade;
terceiro, em face DA concepção política baseada na conquista e na força,
observando a posição assumida por Cristo perante Roma, centro de um império; e,
quarto, finalmente, em face DA administração humana DA justiça.
O pensamento de
Cristo nos levará, assim, ao problema econômico, jurídico e político, três
aspectos fundamentais através dos quais desejo observar aquele pensamento, que
permanece até hoje em plena atualidade.
Comecemos pela
primeira parte.
O advento DA justiça
social, que é a Grande realização a que o século XX aspira, já se encontra no
Evangelho anunciado e preparado em sua mais substancial forma. Principiemos pela
distribuição DA riqueza, que é o mais atual e apaixonante problema, o problema
prático e basilar DA vida coletiva de todos OS tempos. Como reequilibra Cristo
tão distanciadas desigualdades econômicas? A solução do problema DA justa
distribuição, Cristo no-lo dá em forma substancial, completa e definitiva,
porque equilibrada, e não pela moderna forma de luta de classes, que não
resolve, porque desequilibrada. O método DA luta não representa algo de novo e
de resolutivo, mas, significa apenas um comum e antigo método de enriquecimento
por substituição. Nada soluciona como sistema, porque se limita a colocar novas
pessoas e outras classes sociais nas idênticas posições das anteriores. Eis
porque pode interessar muito às pessoas que nele tomam parte, para usufruir
vantagens pessoais, mas não interessa realmente ao Progresso social, para o qual
tem importância a estrutura orgânica DA sociedade e não o que é útil ao
indivíduo; é preciso renovar a organização das posições e não as pessoas que as
ocupam; importa eliminar OS velhos erros e explorações e não repeti-Los para
vantagem de outros.
A moderna luta de
classes não é senão a velhíssima luta biológica, que procura obter força
legitimando-se, assumindo funções de justiça. Velho mimetismo que não resiste à
face das reais forças DA vida. Isso não é eqüidade. A eqüidade, nesse caso, é um
pretexto. O método usado pela prepotência e pela violência revela, no fundo, o
costumeiro abuso, fonte de habituais e infindáveis reações. E o homem, encantado
pela miragem do bem-estar, continua a crer na possibilidade do absurdo, isto é,
que a usurpação pode produzir frutos estáveis e que basta mascarar a força com
as vestes DA justiça para obter resultados definitivos, que por sua natureza ela
não pode Dar. E assim, mudam OS homens e OS erros permancem.
Uma solução estável
e conclusiva não pode ser dada senão pela eqüidade, segundo um sistema de
equilíbrios e não de novas usurpações, com que, visando vantagem pessoal, se
acredita corrigir as velhas. Isso é egoísmo e não justiça. E quando não existe
verdadeira justiça, as mesmas razões que hoje nos autorizam a nos substituirmos
a outros no domínio e bem-estar, amanhã autorizarão a outros a se substituirem a
nós, e assim sucessivamente. Forma-se, então, a muito conhecida cadeia de ações
e reações, que nunca tem fim. A eqüidade não deve existir, se se deseja uma
solução somente na aparência, mas, também, em substância, não só na forma, mas
também nas almas. É necessário, em outros termos, introduzir também no mundo
econômico o conceito do equilíbrio, DA ordem e DA harmonia, conceito fundamental
em qualquer campo de forças, e portanto, também nesse DA riqueza, que dele não é
senão um caso particular. Assim como sabemos que o ódio não se resolve senão
contrapondo-lhe o amor; como a ofensa não se dissolve senão com o perdão, e a
violência com a paciência, assim também a desigualdade e a luta só desaparecerão
se lhes opusermos a verdadeira eqüidade e a verdadeira justiça.
Cristo não diz aos
pobres: “revoltai-vos”. Seu sistema é radicalmente diferente do usado pelo
mundo. A este, que não sabe perceber senão através do claro-escuro
vitória-derrota, faz compreender que Ele não enxerga no pobre um derrotado.
Assim como não diz: “revoltai-vos”, igualmente não diz: “sofrei passivamente”.
Diz, ao contrário: “Ó vós, que sois vítimas DA injustiça, tolerai, tende
paciência!”. Por que, então? - perguntamos.
Como sempre, a
filosofia de Cristo atinge sua complementação num mundo ultraterreno, na íntima
realidade das coisas, em que toda a aparência que enxergamos se completa e se
justifica. A razão - Cristo nos responde - é que a injustiça que vos oprime é
toda humana, e por isso temporária, ligada apenas a esta vida terrena; é uma
pequena injustiça secundária, que não pode violar e não viola a justiça divina,
maior, que faz do oprimido um credor. Estai, portanto, tranqüilos, embora hoje
sofrais, e se isso não vos parece justo, Deus é justo e a injustiça do momento
será compensada, reequilibrada. Na verdade, possuis um direito; vossa
consciência não vos engana: ele vos será concedido.
O sistema do
universo é perfeito, lógico, equilibrado, de uma estabilidade absoluta; porém, o
homem normal, involvido, não sabe ver a tão Grande distância e considera logro
essas promessas. Culpa de sua miopia
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